quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Apesar de habitarem muitas mulheres em mim, EU SOU SÓ UMA! E de carne e osso... Mais osso do que carne!

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Habitam em mim muitas mulheres...


Uma delas chama Caliandra.
Caliandra adora cachoeira, mas não sabe nadar. Vai pra sentir o cheiro do mato, da água. Ouvir o barulho do cerrado. Vai pra se emocionar com a grandeza desse mundo... E até chora.
Na verdade chora muito, por tudo e qualquer coisa! Chora de tristeza e felicidade. Se emociona com os mínimos milagres da vida. Acredita nas pessoas. Em todas elas. Caliandra lê muito. Lê romances, história e histórias. É romantica, mas não pensa em casamento. Ela acredita que existem muitos amores nessas e em outras vidas. Acha que a vida é muito curta pra passar uma inteirinha com uma pessoa só. Gosta de meninos e meninas, pois acredita que as pessoas se apaixonam por pessoas, e não pelo sexo delas.
Caliandra é leve, se aborrece pouco. Quer dizer, abre mão de suas convicções para não ter o aborrecimento de disputar. Concentra-se sempre no melhor das pessoas, e olha com pena e pesar para o pior.
Não é religiosa, mas é bem espiritualizada. Medita, pratica atividades integradoras do corpo e a mente. É serena e inteira. Valoriza muito os velhos e novos amigos, e sente muita saudade de todos eles. Mas sabe que às vezes a vida os coloca um pouco mais distantes.

sábado, 12 de dezembro de 2009


"Adoro dormir! Quando acordo dá uma sensação de que levei um abraço bem gostoso, bem apertado... Ixi, será que seu eu for mais abraçada vou dormir menos?!"

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Viver com Aids é possível. Com o preconceito não.




Melhor que o produto final da campanha, é a história de sua construção.


Saúde Pública?

Nunca tive plano de saúde. Primeiro por não termos tido dinheiro suficiente para isso. Depois por ideologia mesmo. Minha escolha por não ter plano de saúde hoje é ideológica! Sempre fui defensora da saúde pública, da construção do SUS, de um serviço para todos, mas hoje deu uma vontade que tudo isso explodisse!
Acordei domingo com náuseas fortes (se eu não tivesse medo de vomitar, teria vomitado!), dor de cabeça, mal estar e o instestino solto. Achei que eram só os velhos sintomas pré-menstruais. Passei o dia com o Marcelo na casa do Luciano, mas fiquei a maior parte do tempo deitada, bem quietinha.
Ainda bem que segunda era feriado! Acordei e fui direto pro banheiro. Daí para frente foram umas 30 idas... Mal estar geral, fraqueza (a partir da quinta ida já nem tinha mais coragem de comer nada, dava dor de barriga na hora!). Fiquei o dia inteiro deitada. Marcelo ficou por aqui. Acho que não imaginávamos que poderia ser alguma coisa além das chatices pré-mentruais. Ele foi embora e continuei me sentindo mal. Peguei o termômetro: febre! Putz, não acredito, infecção instestinal de novo?! Mas como não sou médica, né... ? Comecei a tomar soro oral. Avisei Marcelo. Ele disse pra ir logo ao Centro de Saúde ver o que tava acontecendo (o daqui do Núcleo Bandeirante funciona 24h). Disse a ele que ia continuar tomando o soro e na terça conversaria com o médico do Centro de Saúde que trabalho. Não dormi nada. Ainda fui ao banheiro algumas vezes. Já quase não conseguia mais ficar em pé de tão fraca. Lembrei no meio da noite que o médico do meu trabalho não ia na terça.
Acordei 6:30 e não tive dúvida: preciso de um médico. Fui ao Centro de Saúde aqui do Núcleio Bandeirante. Cheguei 6:50 e não tinha ninguém na recepção. 6:57 chega uma funcionária vestina numa dessas camisolas da SES/DF, toda descabelada, informando que agora precisava esperar dar 7h para passar pelo acolhimento, pegar a senha, e fazer a ficha do pronto atendimento. Obedientemente fui para porta da sala de "acolhimento", esperei ser chamada, e a única coisa que me foi perguntado foi onde eu morava e qual era minha queixa. Recebi um papel, fui fazer a ficha. Aquela funcionária descabelada falava bem alto com outros funcionários dentro da sala de recepção, fazendo piada com o escândalo do Arruda. Perguntou-me qual era a queixa (mas eu não já tinha dito no "acolhimento"?). Disse de novo qual era minha queixa. E ela disse pra esperar o médico chamar. O médico me chamou às 7:40. Perguntou qual era a queixa (nossa! a terceira vez que eu digo). Adê: "Domingo...". Médico: "Não quero saber de domingo, quer saber o que está sentindo agora". Passou um milhão de coisas na minha cabeça naquele segundo, mas estava tão fraca e me sentindo mal que a única coisa que consegui dizer foi "Então, o que estou sentido é desde domingo." E apresentei minha "queixa" a ele. "E você não foi trabalhar hoje?". E eu respondi: "Ainda não". Rabiscou a ficha de atendimento e disse: "Vai alí tomar uma injeção pra cortar isso aí e pega soro oral também". Só consegui ver ele escrevendo dipirona e glicose, não sei o que era o outro. Esperei uns minutos pra ser chamada pra medicação. Sentei na cadeira enquanto a menina preparava a medicação. Ah, detalhe! Ninguém estava de crachá. Não sei nem categoria profissional nem nome de ninguém. Perguntei: "É endovenosa?". Ela disse que sim. Já me preparei pra ser furada várias vezes. Uma agulha enorme, super grossa. Daí avise: "Toda vez que preciso tomar medicação usam escalpe, meu acesso é difícil". Ela gentilmente disse "Tudo bem". Colocou o garrote e pediu pra abrir e fechar a mão. "Pode abrir e fechar com um pouco mais de força". Estava tão fraca, mas tentei fazer o que pedia. Colocou o escalpe, furou, e nada! Ficou mexendo a agulha, procurando o acesso, e nada... Comecei a ficar agoniada, mas quietinha. Gentilmente ela disse "Vou precisar de ajuda dos universitários. Pessoal, alguém me ajuda nesse acesso aqui por favor". "Peraí, já já eu vou, estou fazendo não sei o que aqui...". Continuei quietinha, apesar de já começar a ficar irritada. Devia ter umas 4 pessoas numa salinha anexa, fazendo sei lá o que! Chegou a outra funcionária. "Senta alí na outra cadeira, essa luz aqui é muito ruim". Pediu um escalpe X lá. A outra, gentil, pegou. "Não, não, é o outro. Falei errado, né?". Colocou o garrote. "Abre e fecha a mão". Tentei fazer o melhor que podia. "Não assim não. Pode abrir e fechar rápido, com força. Você tem que nos ajudar pra gente poder te ajudar". Como assim? Por acaso eu estava fazendo alguma coisa pra atrapalhar? Mesmo já suficientemente irritada, e bem fraca, comecei a apertar com força, abrir e fechar a mão rápido. Ela começou a bater numa veia bem fininha da minha mão. Não segurou minha mão, e tentou furar. Me assustei de leve e minha mão mexeu. "Não, assim não dá, se você não quer tomar injeção!". Adê: "Não é uma questão de querer, colega". Respirei fundo, olhei pro meu braço, pensei em milhões de coisas, mas estava fraca demais pra qualquer uma delas. A única coisa que consegui fazer foi tirar o garrote, agradecer e sair dali. Vim andando pra casa, e no caminho tive muita vontade de chorar. Nem sei se por mim. Não sei se por estar muito fraca. Acho mais que foi de pensar que a maioria das pessoas que procuram atendimento por alguma "queixa" e se submetem a atendimentos tão inacreditavelmente desumanos, nem se dão conta do absurdo disso tudo. Eu estava fraca, fragilizada, sem me alimentar, com dor, e fui tratada como se eu tivesse alguma culpa por estar alí, não ter ido trabalhar, e não conseguirem pegar meu acesso. Além de todo procedimento invasivo, ainda sou tratada mal! E olha eu sempre defendendo o serviço público, encorajando as pessoas a exigirem seus direitos, a reclamar, a solicitar outro profissional para atender se aquele não agradar. E eu, assistente social, pós-graduada, servidora da saúde, não consegui. Não tive forças pra exigir meu direito de ser bem atendida. Saí sem ser medicada, continuo passando mal. Liguei na ouvidoria. A pessoa que atendeu acolheu minha reclamação, e até colocou umas palavras que nem tinha dito, mas como estava fraca demais, nem tive disposição de esclarecer. Não acredito exatamente que vá dar alguma coisa. Mas se não tivesse ligado ia ficar a sensação de que eu oriento muito uma coisa que não faço.
Confesso que ainda estou um pouco desorientada. Se não melhorar vou ter que esperar a troca de plantão para ser atendida de novo... Ou ir a um hospital! Sem a menor necessidade. Pois acredito que o que tenho poderia ser facilmente resolvido por uma boa equipe de atenção básica mesmo. Mas isso só na teoria...